quarta-feira, 25 de julho de 2012

Um dos textos mais bonitos sobre ser mãe que já li.. É um pouco longo, mais garanto que vale a pena.

 
                    Ser Mãe



Estávamos sentadas almoçando quando minha filha casualmente menciona que ela e seu marido estavam pensando em "começar uma família". Ela disse, meio de brincadeira:
- Nós estamos fazendo uma pesquisa. Você acha que eu deveria ter um bebê?
 Eu disse cuidadosamente mantendo meu tom neutro:
                        - Vai mudar a sua vida.
  Ela disse:
- Eu sei. Nada de dormir até tarde nos finais de semana, nada de férias espontâneas...
Mas não foi nada disso que eu quis dizer.
Eu olhei para a minha filha, tentando decidir o que dizer a ela.
Eu queria que ela soubesse o que  nunca vai aprender no curso de casais grávidos.
Eu queria lhe dizer que as feridas físicas de dar à luz iria se curar, mas que tornar-se mãe deixará uma ferida emocional tão exposta que ela estará para sempre vulnerável.
                                    
  


Eu pensei em alertá-la que ela nunca mais iria ler um jornal sem se perguntar "e se tivesse sido o MEU filho?"
Que cada acidente de avião, cada incêndio irá lhe assombrar. Que quando ela vir fotos de crianças morrendo de fome, ela se perguntará se algo poderia ser pior do que ver seu filho morrer.
Olho para suas unhas com a manicure impecável, seu terno estiloso e penso que não importa a quão sofisticada ela seja, tornar-se mãe irá reduzi-la ao nível primitivo da ursa que protege seu filhote.
Que um grito urgente de "Mãe!" fará com que ela derrube um suflê na sua melhor louça sem hesitar nem por um instante.
Eu senti que deveria avisá-la que não importa quantos anos ela investiu em sua carreira, ela será arrancada dos trilhos profissionais pela maternidade.
     
Ela pode conseguir uma escolinha, mas um belo dia ela entrará numa importante reunião de negócios e pensará no cheiro do seu bebê.
Ela vai ter que usar cada milímetro de sua disciplina para evitar sair correndo para casa, apenas para ter certeza de que o seu bebê está bem.
Eu queria que a minha filha soubesse que decisões do dia a dia não mais serão rotina.
Que a decisão de um menino de 5 anos de ir ao banheiro masculino ao invés do feminino no McDonalds se tornará um enorme dilema. Que ali mesmo, em meio às bandejas barulhentas e crianças gritando, questões de independência e gênero serão pensadas contra a possibilidade de que um molestador de crianças possa estar observando no banheiro.

Que não importa quão assertiva ela seja no escritório, ela se questionará constantemente como mãe.Olhando para minha atraente filha, eu queria assegurá-la de que o peso da gravidez ela perderá eventualmente, mas que ela jamais se sentirá a mesma sobre si mesma.
Que a vida dela, hoje tão importante, será de menor valor quando ela tiver um filho.Que ela aprenderá a dar o verdadeiro valor a sua mãe.


Saberá que uma noite tranquila não significa que foi dormida por inteiro.
Que ela se daria num segundo para salvar sua cria, mas que ela também começará a desejar por mais anos de vida - não para realizar seus próprios sonhos, mas para ver seus filhos realizarem os deles.O relacionamento de minha filha com seu marido irá mudar, mas não da forma como ela pensa. Eu queria que ela entendesse o quanto mais se pode amar um homem que tem cuidado ao passar talco num bebê ou que nunca hesita em brincar com seu filho. Eu achei que ela deveria saber que ela se apaixonará por ele novamente por razões que hoje ela acharia nada românticas.Eu gostaria que minha filha pudesse perceber a conexão que ela sentirá com as mulheres que através da história tentaram acabar com as guerras, o preconceito e com os motoristas bêbados.
Eu espero que ela possa entender porque eu posso pensar racionalmente sobre a maioria das coisas, mas que eu me torno temporariamente insana quando eu discuto a ameaça da guerra nuclear para o futuro de meus filho.Eu queria descrever para minha filha a enorme emoção de ver seu filho aprender a andar de bicicleta. Eu queria mostrar a ela a gargalhada gostosa de um bebê que está tocando o pelo macio de um cachorro ou gato pela primeira vez. Eu quero que ela prove a alegria que é tão real que chega a doer. O olhar de estranheza da minha filha me faz perceber que tenho lágrimas nos olhos.
                                "Você jamais se arrependerá", digo finalmente.

   Então estiquei minha mão sobre a mesa, apertei a mão da minha filha e fiz uma prece silenciosa por ela, e por mim, e por todas as mulheres meramente mortais que encontraram em seu caminho este que é o mais maravilhoso dos chamados.  
                              Este presente abençoado de Deus que é ser Mãe.




Fonte: http://sopros-da-alma.blogspot.com.br/, em 25 de julho de 2012 á 18 :40 .

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre.A gente entende que saudade, além de não se traduzir, também não se cobra. Que presença e importância não se impõe.





Amigo de verdade não é aquele que sempre te atura triste, denso e monotemático. Mas o que te fala: mano, tu tá mala... Meus parabéns atrasados pelo dia do AMIGO a todos os sortudos que possuem amigos de verdade.

                           

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Adoro estes dois : Caio Fernando e Clarice Lispector. Estes dois textos abaixo relatam as impressões de Caio Fernando Abreu sobre Clarice, no dia em que se viram pela primeira vez e de que maneira os livros dela agiam sobre ele:





Caio Fernando Abreu
"Em 1971, li um dia no jornal que ela estava em Porto Alegre pra dar uma entrevista na TV e que depois ia autografar seus livros. Peguei todos os livros que tinha da Clarice e corri para o estúdio. Deparei, então, com uma mulher linda, enigmática, silenciosa. Aquela gente toda em torno dela e ela absolutamente quieta, sentada em uma cadeira com aquelas unhas vermelhas. Não tive coragem de me aproximar e a fiquei olhando a distância. De repente, ela me chamou e, com aquela voz cheia de erres presos, me disse: ‘Você senta comigo. Você se parece com dom Quixote e deve ficar ao meu lado, porque eu estou muito assustada”... Pouco tempo depois, viajei ao Rio de Janeiro para o lançamento de Limite branco. Assim que cheguei ao hotel, telefonei para ela. ‘Eu quero ser a madrinha dessa noite’, ela me disse. Apareceu na livraria toda de preto e ficou a nlite toda sentada ao meu lado, em silêncio absoluto. De vez em quando, ela se voltava para mim e, com aquela voz rouca, sussurrava: ‘Você é o Quixote! Você é o Quixote! Nessa época Clarice estava escrevendo Água viva. Nos dias seguintes, ela me telefonou várias vezes me convidando para visitá-la em seu apartamento. Quando eu chegava na portaria, o porteiro dizia: ‘Dona Clarice não está’. Ela estava em casa, mas deixava o porteiro com essa ordem de barrar as visitas e se esquecia de mim... Clarice não gostava muito de viajar. Mas um dia, numa visita a Porto Alegre para um encontro literário, ela me telefonou. ‘Quixote, estou aqui’,  me disse. ‘Venha me levar a algum lugar diferente, porque eu não gosto de escritores’. Fomos, então, caminhar pela Rua da Praia. Em um bar, pedimos um café, que foi servido no copo. ‘Numa xícara, por favor’, ela pediu. O rapaz, paciente, fez a troca. Ela tomou o café em absoluto silêncio. Pensei que estivesse aborrecida. De repente, ela me perguntou: ‘Como é mesmo o nome dessa cidade?’. Clarice já estava em Porto Alegre há três dias! Mas isso não importava, ela habitava mesmo o planeta Lispector... Chegou uma hora que em que eu me proibi de ler Clarice Lispector. Seus livros me provocavam a sensação de que tudo já foi escrito, de que nada há mais a dizer. Eu não suporto mais ler as ficções de Clarice. Claro que, às vezes, leio escondido de mim mesmo. Mas elas me perturbam muito”.


Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/1995 


Ele também fala de Clarice em uma carta escrita para a escritora Hilda Hilst:





Hilda Hilst




Hildinha,  9/12/1970
A  carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa televisão, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era ela. Me aproximei, dei os livros para ela autografar e entreguei o meu Inventário. Ia saindo quando um dos escritores vagamente bichona que paparicava em torno dela inventou de me conhecer e apresentar. Ela sorriu novamente e eu fiquei por ali olhando. De repente fiquei supernervoso e sai para o corredor. Ia indo embora quando (veja que GLÓRIA) ela saiu na porta e me chamou: - “Fica comigo.” Fiquei. Conversamos um pouco. De repente ela me olhou e disse que me achava muito bonito, parecido com Cristo. Tive 33 orgasmos consecutivos. Depois falamos sobre Nélida (que está nos States) e você. Falei que havia recebido teu livro hoje, e ela disse que tinha muita vontade de ler, porque a Nélida havia falado entusiasticamente sobre Lázaro. Aí, como eu tinha aquele outro exemplar que você me mandou na bolsa, resolvi dar a ela. Disse que vai ler com carinho. Por fim me deu o endereço e telefone dela no Rio, pedindo que eu a procurasse agora quando for. Saí de lá meio bobo com tudo, ainda estou numa espécie de transe, acho que nem vou conseguir dormir. Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro. Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim – teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde. Um grande beijo do teu
Caio.


Fonte: Livro de cartas organizado por Italo Morriconi

“Preciso admitir, sou muito irônica, e grossa as vezes, um pouco meiga de vez em quando. Gosto do meu lado apaixonada, mas quase nunca aparece. E meu lado safado chega a me assustar. Protetora e ciumenta ao extremo. Tenho um gênio difícil e um temperamento forte. As vezes sou barraqueira, outras, calma até demais. Dura como uma pedra e frágil como um vidro. Um poço de orgulho, e mais conhecida como a rainha do drama, essa sou eu. E sabe o que mais me assusta? Ainda tem gente que gosta.”

                       

Depois os dois se abraçaram e se deram beijos nas duas faces e como duas pessoas que não se vêem há muito tempo atropelaram perguntas como: por onde é que tu anda, criatura, ou exclamações como: mas tu não mudou nada, ou reticências tão demoradas que as filas chegavam a deter-se um pouco, as pessoas reclamando e uma hesitação entre mergulhar nas gentes entre um beijo e um me telefona qualquer dia e ficar ali e convidar para qualquer coisa, mas um medo que doesse remexer naquilo, e tão mais fácil simplesmente escapar que chegou a dar dois passos. Ou três.

                         

Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.

                

E a queda? Aceito todo dia...

                          

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Enrolei quase cinco anos , mas até que enfim tomei coragem e fiz minha primeira tatoo...


Antes de estender os braços, preciso saber o que há dentro desses braços, porque não quero dar somente o vazio. Também não quero me buscar nos outros, me amoldar ao que eles pensam, e no fim não saber distinguir o pensar deles do meu.

             Nas madrugadas de estrelas tão pálidas que, se você piscasse os olhos, de repente não estavam mais lá. — Caio Fernando Abreu.

meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira...

           Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto.— Caio Fernando Abreu

Talvez seja esse o problema. Uma vida sem manhãs. Estranho é que não escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi. Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando. Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente, se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita. Se houve, eu não lembro. Tenho a impressão de que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui. Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer, o problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa para começar a acontecer...

         Talvez seja esse o problema. Uma vida sem manhãs. Estranho é que não escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi. Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando. Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente, se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita. Se houve, eu não lembro. Tenho a impressão de que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui. Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer, o problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa para começar a acontecer. — Caio Fernando Abreu

Você pode. Se quiser, você pode conquistar o seu destino, inventar a sua verdadeira vida. Sim, você pode...

        Você pode. Se quiser, você pode conquistar o seu destino, inventar a sua verdadeira vida. Sim, você pode. — Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 4 de julho de 2012

"Não sou para todos. Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias..."

             

de tudo , me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. … E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.